Saúde

O sal com quantidades reduzidas de sódio é uma opção mais saudável?

Há muito tempo sabemos que o sal é um dos vilões da nossa alimentação. Sal existe embutido em alimentos industrializados e ultra-processados, mas também adicionados por nós para conservação de alimentos, durante o seu preparo e mesmo no tempero do alimento já servido.

Com estas informações, buscamos diminuir as quantidades de sódio e tentamos encontrar alguma substituição mais saudável.

Substitutos do sal com quantidades reduzidas de sódio já demonstraram reduzir a pressão arterial. Mas, será que também impactam na saúde cardiovascular?

Um estudo recém-publicado foi desenvolvido na China com 20.995 pessoas e duração média de 4,74 anos.

Os participantes eram homens e mulheres adultos com história de AVC (Acidente Vascular Cerebral) prévio ou idosos (com 60 anos ou mais) com hipertensão arterial mal controlada.

Metade dos indivíduos usou sal comum – 100% de cloreto de sódio – e a outra metade, um substituto do sal com 75% de cloreto de potássio e 25% de cloreto de sódio.

Todos foram orientados a usar apenas o sal fornecido – seja para cozinhar, temperar ou conservar os alimentos – e a usar o sal da mesma forma que antes ou mais moderadamente, mas não aumentando o consumo.

O acompanhamento foi feito a cada 6 meses buscando identificar alguma intercorrência médica, internações ou eventos cardiovasculares sérios.

E os resultados foram bastante animadores: houve diminuição de 13% no risco de AVC nos pacientes que usaram o substituto do sal. O estudo também demonstrou proteção contra outros eventos cardiovasculares maiores e morte por todas as causas.

A redução do sódio e a suplementação de potássio têm mostrado efeitos independentes para diminuir a pressão arterial, mas têm resposta ainda maior quando juntos pois apresentam efeitos sinérgicos.

Apenas uma preparação de substituto do sal foi usada e, portanto, diminuições graduais na ingestão de sódio, que poderiam induzir respostas graduais, não foram avaliadas.

Um ponto interessante que também foi observado é que a magnitude da proteção vista neste ensaio é semelhante à assumida em outro estudo que estimou que 365.000 acidentes vasculares cerebrais, 461.000 mortes prematuras e 1.204.000 eventos vasculares poderiam ser evitados cada ano pelo uso em toda a população de um substituto do sal na China.

Estimamos que grandes benefícios também podem ser alcançados em outros países da Ásia, África e América Latina, onde a ingestão de sal está acima dos níveis recomendados.

Além disso, foi ressaltado que as populações de baixa renda e desfavorecidas são as que adicionam maiores quantidades de sal na sua dieta durante a preparação dos alimentos e cozinhar e a substituição de sal é uma intervenção prática e de baixo custo podendo ter o potencial de reduzir as desigualdades de saúde relacionadas a doenças cardiovasculares.

E finalizando, comparando um substituto do sal com sal regular entre pessoas com história de acidente vascular cerebral ou hipertensão e mais de 60 anos, as taxas de acidente vascular cerebral, grandes eventos cardiovasculares e morte por qualquer causa foram menores com o substituto do sal, que não parece apresentar aparentes efeitos adversos graves.

Que tal começar a diminuir hoje ainda nosso consumo de sódio? Já temos no mercado alguns sais com redução de sódio, mas, ainda antes disto, sugiro iniciar reduzindo o consumo de ultra-processados, aumentando o consumo de temperos frescos e naturais como ervas e especiarias e diminuindo o sal usado à mesa!

Texto baseado no artigo Effect of Salt Substitution on Cardiovascular Events and Death, N Engl J Med 385; 12, september 16, 2021

Escrito por Dra. Roberta Portugal – médica endocrinologista e certificada em medicina do estilo de vida.

Dra. Roberta Portugal

Médica formada pela UFF (Universidade Federal Fluminense). Residência Médica em Clínica Médica pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e em Endocrinologia e Endocrinologia Pediátrica pelo IEDE (Instituto Estadual de Endocrinologia e Metabologia). Certificada em Medicina do Estilo de Vida pelo International Board of LifeStyle Medicine (IBLM). Instagram: @drarobertaportugal www.drarobertaportugal.com.br

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