Você sabe o que é ageísmo? Descubra o que é e como ele pode impactar sua saúde!
Fatores como o crescimento econômico, a maior produção de alimentos e os avanços da medicina têm aumentado a expectativa de vida da população. Com isto, percebemos padrões de envelhecimento muito diferentes nos idosos que apresentam graus diferentes de independência, saúde e relacionamentos sociais e familiares.
O que podemos perceber é que muitos desafios estão surgindo ao observarmos a forma como os idosos são percebidos e tratados na nossa sociedade.
Um artigo publicado no NY Times baseado em três décadas de estudos de Becca Levy, uma psicóloga da Universidade de Yale, demonstrou que a discriminação por idade pode diminuir anos de vida.
Nos seus estudos com alunos das turmas de Saúde e Envelhecimento da Escola de Saúde Pública de Yale, percebeu-se que em nosso imaginário as pessoas idosas são associadas a palavras positivas como sabedoria e criatividade e a papéis carinhosos como o de avô. Mas também a muitas palavras negativas como senilidade, enfermidade física, declínio, corcunda, doente e decrépito.
O termo ageísmo define justamente os estereótipos e discriminação sofridos pelos adultos mais velhos. Mas este preconceito de idade resulta em mais do que sentimentos feridos ou mesmo comportamentos discriminatórios. Afeta a saúde e o bem-estar físico e cognitivo de maneiras mensuráveis e pode tirar anos de vida.
Assim como aprendemos nas últimas décadas que o sistema é tendencioso contra mulheres e negros, levando a piores resultados de saúde, ela mostrou que sentimentos negativos sobre a velhice levam a evoluções desfavoráveis em pessoas mais velhas.
Um estudo de longevidade realizado em 2002 descobriu que a sobrevivência média foi de sete anos e meio a mais para aqueles idosos com as crenças mais positivas sobre o envelhecimento em comparação àqueles com as atitudes mais negativas.
Através de questionários, exercícios e outros testes e do rastreio dos registros de saúde de milhares de norte-americanos, foram medidas as atitudes de cada indivíduo em relação ao envelhecimento.
E o mais surpreendente é que além da redução da longevidade, o ageísmo também estava associado a:
• Eventos cardiovasculares, incluindo insuficiência cardíaca, derrames e infartos: O risco era duas vezes maior se, em idades jovens, os indivíduos tivessem adotados estereótipos negativos sobre o envelhecimento. Seus eventos cardiovasculares também ocorriam em idades mais precoces.
• Função física: Entre 100 idosos com idade média de 81 anos, aqueles expostos semanalmente a estereótipos de idade positivos implícitos durante um mês tiveram melhores resultados em testes de marcha, força e equilíbrio do que os grupos de controle. De fato, aqueles que receberam exposição positiva melhoraram mais do que um grupo experimental de idade semelhante que se exercitou por seis meses. Num estudo com residentes de New Haven com mais de 70 anos, aqueles com crenças positivas de idade também eram mais propensos a se recuperar totalmente de doenças graves do que aqueles com crenças negativas.
• Doença de Alzheimer: Alguns participantes do estudo de Baltimore passaram por exames cerebrais regulares e alguns doaram seus cérebros para autópsias. Aqueles que mantiveram crenças de idade mais negativas em idades mais jovens exibiram um declínio mais acentuado no volume do hipocampo, a região do cérebro associada à memória. Eles também exibiram, após suas mortes, mais biomarcadores de Alzheimer. Dados do National Health and Retirement Survey que incluiu se os participantes carregavam o gene APOE4 – associado ao risco aumentado de Alzheimer – demonstraram que aqueles indivíduos com o gene que tinham crenças positivas sobre o envelhecimento tinham um risco tão baixo quanto as pessoas sem o gene.
• A lista continua: As pessoas mais velhas com visões positivas do envelhecimento apresentam melhor desempenho em testes de audição e tarefas de memória. São menos propensos a desenvolver doenças psiquiátricas como ansiedade, depressão, transtorno de estresse pós-traumático e pensamentos suicidas.
Na verdade, foi estimado que a discriminação por idade, estereótipos negativos de idade e autopercepções negativas do envelhecimento levam a US$ 63 bilhões em gastos anuais em condições de saúde comuns, como doenças cardiovasculares e respiratórias, diabetes e lesões.
A boa notícia é que quando avaliamos outras culturas como a japonesa, vemos idosos com tratamento completamente diferente da ocidental e estes apresentam a maior expectativa de vida do mundo.
Vemos claramente que os valores culturais e as próprias ideias das pessoas sobre a idade podem afetá-las e impactar no seu comportamento e na sua saúde.
Absorvemos esses estereótipos desde tenra idade, por meio de retratos depreciativos da mídia e contos de fadas sobre bruxas velhas e más e as instituições – empregadores, organizações de saúde, políticas habitacionais – expressam um preconceito semelhante, reforçando essas crenças.
Mas a melhor parte é que ideias prejudiciais sobre a idade podem mudar. Usando as mesmas técnicas subliminares que medem atitudes estereotipadas, foi possível aumentar o senso de competência e valor entre os idosos.
“Você não pode criar crenças, mas pode ativá-las”, disse Levy, expondo as pessoas a palavras como “ativo” e “cheio de vida”, em vez de “rabugento” ou “indefeso”, para descrever adultos mais velhos.
O desafio é grande, são muitas as ideias pré-concebidas que precisamos mudar, mas uma certeza que temos é que, se não morrermos jovens, todos vamos envelhecer. Que possamos fazer isso sendo respeitados, amados, com saúde, o máximo possível de independência e qualidade de vida!
*Texto baseado em tradução livre e adaptada do artigo Exploring the Health Effects of Ageism do New York Times publicado em 23 de abril de 2022.