Conhecimento

O que o seu cérebro e o seu coração tem em comum?

Esta é uma pergunta curiosa para testar os seus conhecimentos sobre estes dois grandes órgãos!  Vamos listar aqui algumas semelhanças. Veja se você também pensou em alguma delas:

– Cérebro e coração são órgãos vitais, sem os quais não conseguimos sobreviver, diferente do que acontece quando perdemos uma unha ou um membro, que causam muito incômodo quando são perdidos, mas que com algumas adaptações conseguimos continuar a viver. Isso não acontece com o cérebro e o coração, pois são essenciais.

– Cérebro e coração começam a tomar forma entre a terceira e quarta semanas de vida do ser humano, ainda bem no início da gestação.

– Cérebro e coração recebem e doam. No caso do coração, recebe e bombeia sangue. No caso do cérebro, recebe e envia informações para todas as partes do corpo.

– Cérebro e coração gostam de se exercitar, amam desafios. Por mais que talvez você não goste tanto de se exercitar, o seu coração agradece muito quando você faz isso, porque ele fica mais forte durante o exercício e pode bater mais devagar durante o repouso. Ele também agradece porque o exercício físico fortalece os músculos e pulmões, seus grandes parceiros de trabalho. O exercício físico também ajuda a fazer o sangue circular melhor, aumenta a bombeamento de sangue das veias da perna, reduzindo inchaços, varizes e dor. Ele também ajuda a controlar os níveis de açúcar e gordura no sangue e a manter um peso saudável. O cérebro também recebe mais oxigênio quando você se exercita, melhorando o seu desempenho em diversas tarefas.  Ele te agradece reduzindo a inflamação e produzindo hormônios do bem-estar, como dopamina, o que faz você continuar. Olha só, também te recompensa com um sono mais profundo e restaurador. 

– Falando em sono, cérebro e coração se beneficiam muito de uma boa noite de descanso! Digamos que de dia eles trabalham bastante, mas à noite eles não param não. Muito pelo contrário. Enquanto você dorme, seu cérebro aproveita para reorganizar as toneladas de informações que ele recebeu durante o dia. Faz uma busca em todos os arquivos para ver o que pode ser descartado e armazena no hipocampo o que pode vir a ser útil no futuro.  As células da glia (um sistema de limpeza do cérebro) também fazem uma boa faxina removendo as toxinas que se acumularam durante o dia. Enquanto isso, o seu coração se mantém batendo firme, mas um pouco mais devagar. Aproveita para reduzir um pouco a pressão arterial, a não ser que você o fique acordando a noite inteira com roncos e apnéia. Se isso acontecer, ele fica irritado, acelera os batimentos, aumenta a pressão, e pode até acontecer uma arritmia ou AVC durante o dia, já que seu ronco não o deixou descansar.

– Cérebro e coração são sensíveis a aumentos de pressão, gordura e açúcar no sangue.  O aumento da pressão arterial danifica o revestimento interno dos vasos de sangue, tornando-os mais endurecidos e aumentando o trabalho do coração. Isso o faz cansar, aumentar de tamanho, dilatar ou hipertrofiar. No caso do cérebro, o aumento da pressão machuca os vasos de sangue que o nutrem, levando suas paredes a ficarem mais duras para “aguentar o tranco”. Essa rigidez torna mais fácil tanto o entupimento quanto o rompimento das artérias, causando, respectivamente, o AVC isquêmico e o hemorrágico.

Aumento de açúcar no sangue tem um efeito semelhante, pois também danifica a parede dos vasos de sangue. Já comeu algo muito doce e ficou com a garganta queimando? Bem, nos vasos de sangue ocorre algo parecido. O açúcar aumentado leva a inflamação e pequenos machucados nos vasos de sangue, o que chamamos de “lesão endotelial”. Essa inflamação torna mais fácil a formação de placas de gordura, que podem entupir os vasos, levando ao infarto e ao AVC.

– Justamente por isso, cérebro e coração tem um paladar refinado. Ambos se beneficiam de uma alimentação rica em frutas, verduras, legumes, castanhas, grãos e cereais integrais (sem excesso de sal, açúcar e gorduras, principalmente as gorduras trans e as saturadas). Esses alimentos reduzem a inflamação, a pressão arterial, diabetes, obesidade, e contém excelentes quantidades de nutrientes, sendo fibras, vitaminas, minerais, com propriedades anti-inflamatórias anti-oxidantes.  Você pode até achar que não é bem assim… mas quando você sentir vontade de alimentos refinados, industrializados, cheios de sal, açúcar e gordura saturada, saiba que não é seu cérebro pedindo não, nem seu coração, mas sim o seu paladar.

– Tem mais uma coisa de que os dois não gostam: tóxicos. Pois é. Tabaco, álcool, drogas ilícitas, poluição. Essas substâncias estão associadas a lesão dos neurônios e das células do músculo do coração. Podem levar a inflamação, redução da força do coração, entupimento das artérias, arritmia, infarto, AVC e demência.

– Vamos para mais uma semelhança: nenhum dos dois fica bem quando você está triste. Depressão, estresse e solidão aumentam o risco de doenças cardiovasculares. Por outro lado, meditação, ter amigos, socializar, contar com bom suporte familiar e cultivar emoções positivas contribuem para a saúde do seu cérebro e de seu coração.

Bem, agora, falando em diferenças, você deve ter pensado em várias. Aqui vai uma bem interessante: Até o presente momento, o coração pode ser transplantado, mas o cérebro ainda não. Então cuide muito bem do seu, pois embora atribuamos muito das nossas emoções ao nosso coração, na verdade é através do nosso cérebro que tomamos as decisões que afetam a saúde de todo o nosso corpo. Cuide muito bem do seu. Faça boas escolhas, cultive boas emoções. Não apenas o seu coração, mas o seu corpo inteiro colherá os benefícios!

Referências:

World Health Organization / Cardiovascular Diseases              

https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/cardiovascular-diseases-(cvds)

2019 ACC/AHA Guideline on the Primary Prevention of Cardiovascular Disease: A Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines. J Am Coll Cardiol.

Dementia prevention, intervention, and care: 2020 report of the Lancet Commission.     The Lancet, 8–14 August 2020

Dra. Ellen D. A. Lessa

Médica Clínica e Geriatra, Certificada em Medicina do Estilo de Vida pelo IBLM / CBMEV Instagram: @dra.ellen.lessa

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